UMA MENTALIDADE MAIS ELEVADA E A GESTÃO SERGIO FONSECA

O que diríamos se assistíssemos um filme de guerra romana onde as espadas usadas pelo exército fossem enferrujadas, com cabos desgastados e lâminas cegas? Automaticamente diríamos que ele não venceria qualquer batalha onde o inimigo viesse com “estiletes novos e afiados”. Quem não meneou a cabeça ao saber que os EUA iniciaram uma guerra contra o exército iraquiano que, coitado, até os capacetes de seus soldados eram furados e trincados?! A realidade dos Sistema Penitenciário Paraibano encontra-se no meio do caminho da idéia acima. Estamos entre o velho e o novo. Muitas são as cadeias e penitenciárias que ainda usam revolveres calibre 38, enferrujados, cabos desgastadíssimos e munições de testes que não tem eficácia em qualquer combate. Espingardas Calibres 12 defeituosas é de baldes cheios nas “armarias” das unidades estaduais. Pistolas e SMT´s inconfiáveis para qualquer contra-ataque de mais de trinta minutos, estão aos magotes nos armários das grandes casas penais. Muitos são os relatos de Agentes que, na necessidade de uso das armas, ficaram desmoralizados ante as mais variadas situações que requereram forças supras. O cômico de dizer “é um tiro e uma carreira” é uma realidade entre nós. Diríamos que essa é a herança de gestões passadas para o nosso povo guerreiro que milita valentemente nas unidades.

Ainda falando sobre o velho tempo (que não muito distante), quando muitos assumiram em 2012 não se tinha coletes para todos os ASP´s, e os pouco que tinham eram velhos, suados, desgastados, vencidos e que nos faziam ser confundidos com a Policia Civil, pois era o que tinha escrito nas costas “POLÍCIA CIVIL”. Orgulho próprio nos pés. Quando em maio de 2012 ocorreu a rebelião na penitenciária Dr. Romeu Abrantes – PB1, não havia calibre 12 o suficiente para todos os guerreiros que ali aportaram, tanto os de serviço (como eu, naquela noite), quanto os que estavam de folga e foram aguerridamente dar o apoio necessário naquela fatídica situação de crise aos colegas de plantão. Fato é, que logo passada a crise naquela unidade, feito feixes de cabos de vassouras, estavam inúmeras calibres 12 num canto da antiga armaria advindas da briosa PM paraibana que não as usava mais. Desde a muito sobrevivemos no SISPEN-PB com as sobras das demais corporações.

A bem da verdade a situação dos agentes penitenciários da Paraíba é a da “passagem do meio”, como diz o psicólogo James Hollis em sua obra “Os Pantanais da Alma”. Estamos no meio da ponte entre o velho e o novo, entre o passado e o futuro. Não sabemos se reclamamos ou se agradecemos. Existimos entre o desespero e a esperança. Encontramos ainda nas unidades mais próximas armamentos envelhecidos pelo tempo e pelo uso, mas ao mesmo tempo, encontramos agentes com coletes novos e acautelados sob suas responsabilidades para proteção individual. O burburinho mais recente nos alojamentos é que chegaram as 700 pistolas tão aguardadas desde há muito. Entre o povo do “fronte cadeadeano” o que se pergunta é: “vão acautelar essas armas para nós, ou vão apenas para as unidades?”. Bem, a promessa feita, em razão do bom barulho realizado pela AGEPEN-PB e SINDASP-PB, é que serão acauteladas sim para os ASP´s, sob suas responsabilidades para trabalho e proteção. É fato que o número que se anuncia não cobre o universo de ASP´s de João Pessoa a Cajazeiras, mas já é um bom ponta pé inicial.  As mudanças estão acontecendo a conta-gotas, mas estão acontecendo.

Creio que o fato de termos um secretário da pasta, que quando Diretor, apesar de ser PM, vestia-se com a farda do SISPEN-PB, tem-nos levado a confiança e esperança no seu trabalho enquanto conosco. Todavia, a felicidade de receber uma arma acautelada em nosso próprio nome não pode nos levar a comodidade. Precisamos a cada dia que se passa elevar nossa mentalidade a um nível cada vez mais caro. Digo isso porque uma categoria de mentalidade elevada não se contenta meramente com o fato (acautelamento), mas principalmente com o “Direito” que cada ASP deve gozar de acautelar ou não uma arma, ou um colete para si. Não devemos descansar enquanto não existir disponível para cada ASP deste cantão uma arma e um colete (no mínimo), a sua disposição para acautelamento. A mentalidade de “eu me dando bem o resto que se exploda” ou morre entre nós, ou ela nos matará. Não deve ser mais a SEAP ou a GESIPE a dizer dos limites de acautelamento para os ASP´s, pois isso soaria como incompetência administrativa; antes, eles devem continuar fazendo o bom trabalho de proporcionar para aqueles que mantem a ordem e a disciplina nas unidades penais condições de trabalho que honra, moral e valorização. 

Nesse estágio em que nos encontramos, é salutar que haja critérios para a distribuição dessas primeiras 700 novas armas. Não deixando de levar em conta que quem mais precisa se proteger é quem todas as manhãs está na porta dos pavilhões, sem balas clava, para pagar o café dos presos de justiça da Paraíba. É tempo de elevarmos nossos anseios para que toda a categoria seja assistida em suas necessidades, não apenas “os amigos do rei”.

 

David Abreu

Agente Penitenciário

Colunista da AGEPEN-PB

Bacharelando em Direto

Bacharelando em Teologia         

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